Eu vivo na Alemanha há mais de 10 anos e nesse período aprendi na prática as habilidades que são necessárias quando se vive fora de seu país de origem, longe da sua cultura, da sua língua, da sua família e amigos. E os pontos a seguir são etapas pelas quais passei e foram fundamentais para entender o que significa de fato morar fora.
Indo bem direto ao assunto: cada um tem sua correria. Quando você vai morar fora, em boa parte do tempo você vai depender de você mesmo para resolver os pequenos e os grandes problemas da vida no exterior. A família e os amigos estão longe e seus primeiros contatos no novo país provavelmente também tem seus próprios problemas pra resolver.
Ah, mas eu tenho amigos que moram fora…”
Sim, os amigos podem te ajudar no começo, mas depois, cada um tem de correr atrás do seu e você que vai ter que se virar para resolver sua vida. Por isso, desde o início, se jogue e comece a se virar sozinho, a buscar informação, a ir atrás do que precisa sem depender dos outros.
Muita gente que vai morar fora chega a prometer à família que irá todo ano ao Brasil. Por outro lado, parentes e amigos prometem que irão te visitar no exterior. Vamos falar a verdade? Isso até pode acontecer, mas somente no início. Com o passar do tempo, você percebe que vai acumulando compromissos com trabalho, estudo, renovação de visto (que custa caro), contas a pagar e viajar todo ano ao Brasil passa a ser cada vez mais fora da realidade. Sua família e amigos percebem que uma viagem à Europa ou EUA, por exemplo, é cara e não pode ser feita com tanta frequência, principalmente com o Real tão desvalorizado frente ao Euro e ao Dólar. No final das contas, a realidade de muitos brasileiros que vivem no exterior é essa: passar anos sem ver família e amigos. Nesses mais de 10 anos de Alemanha, eu fui ao Brasil em média a cada 2 anos, Algumas vezes tinha o dinheiro mas não tinha tempo, outras com tempo mas sem dinheiro. E esse é o dilema de muitos aqui. Aceitar isso é difícil, mas essencial para você manter sua saúde mental e conseguir tirar proveito da vida no exterior.
Sim, eu sei que muitos brasileiros vão para outro país já com duplo passaporte (o que dispensa a necessidade de visto), mas essa infelizmente não é a realidade da maioria dos brasileiros que vão morar fora. Em geral, os brasileiros recebem um visto de acordo com o objetivo da vida em outro país: trabalho, estudo, etc. O problema é que esse visto é atrelado à atividade. Se você veio trabalhar, o tempo do seu visto será atrelado ao tempo de contrato. Se veio estudar, ao tempo dos estudos, e assim por diante. Quando um visto se encerra, você terá de procurar alternativas se quiser continuar vivendo no exterior. Achar um novo trabalho, continuar estudando, iniciar uma nova atividade… E em todos esses casos, solicitar um novo visto (que custa tempo e dinheiro). E esse visto também será limitado. Esse ciclo vai se repetir várias vezes e isso é bem estressante. Nos meus mais de 10 anos de Alemanha já tive pelo menos 5 renovações de visto. Primeiro como estudante (universidade), depois curso de idioma, depois para trabalhar, em seguida novamente estudos (mestrado), e a seguir novamente visto de trabalho. Depois de alguns anos vivendo no exterior, é claro que você pode solicitar uma residência permanente. Mas depois de quantos anos e sob quais condições, isso varia muito de país para país. Aqui na Alemanha, por exemplo, são necessários pelo menos 5 anos.
Algumas pessoas saem do Brasil para morar fora já com um contrato de trabalho. Esse é um cenário ideal: segurança financeira, visto garantido. Mas infelizmente, essa novamente não é a realidade da maioria dos brasileiros que vão para o exterior. Se você não tem um trabalho garantido e mesmo assim quer trabalhar na sua área, será necessário um longo processo com reconhecimento de certificados, qualificações e experiências, que precisam ser validados (sem garantia de que serão aceitos). Enquanto isso, a vida corre e você precisa ganhar dinheiro. E por isso que muita gente com diploma vai trabalhar em café, restaurantes, hotéis e afins.
Deixe seus preconceitos de lado.
Ao contrário do que muitos pensam, esses trabalhos não são subempregos. Essa é infelizmente uma visão do Brasil, que tem grande desigualdade social e coloca as pessoas em classes. No exterior, esses trabalhos são melhor remunerados e têm mais reconhecimento. Aqui na Alemanha, por exemplo, o salário mínimo gira em torno de 1500 €/mês. No exterior, você pode sim trabalhar em um café e viver bem com isso. E muitos que no Brasil tinham carreira, deixam de lado esses status, pois veem que não precisam de um alto cargo para conseguir pagar suas contas. É claro que isso depende muito do país onde se vive, mas na Europa, Austrália, EUA há muitos brasileiros formados e bem qualificados trabalhando nessas áreas.
Quando vim para a Alemanha em 2010, já tinha curso superior e trabalhei em café, bar, balada, restaurante…somente 2 anos depois fui trabalhar em algo próximo da minha área.
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Não é clichê dizer que morar fora é uma das experiências mais enriquecedoras que você terá na vida, se não a mais. Se adaptar a uma nova cultura, novos hábitos, clima, língua. Uma infinidade de mudanças que faz a adaptação ser quase uma rotina na vida de quem vive no exterior. Fora isso, é possível que até dentro do país que você escolheu seja necessário mudar de área ou de cidade para conseguir prolongar seu visto. Esse é o caso da Austrália por exemplo, onde algumas cidades facilitam vistos para brasileiros enquanto outras nem tanto. Ou em países da Europa, onde as melhores oportunidades de trabalho nem sempre estarão na cidade que você escolheu. E aí uma mudança de cidade (ou até de país) e uma nova adaptação se fazem necessárias.
Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. Leon C. Megginson
Mudar e se adaptar às novas condições fazem parte da vida de quem vive no exterior. Esse é um preço que tem de se pagar por estar fora de seu país, de sua cultura. Mas traz benefícios que vão te acompanhar pelo resto da vida.
Fonte: Um Brasileiro em Berlim
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